A Mesa da Confraria da Rainha Santa Isabel, no âmbito daquela que é uma das especificidades inerentes à sua instituição – a promoção do culto a Santa Isabel – resolveu promover uma página na internet onde os devotos da Rainha Santa Isabel pudessem colher informação fiável e actualizada sobre tudo quanto diga respeito à vida e culto da sua Excelsa Padroeira, bem como à Confraria e aos espaços onde esta se encontra instalada.
A história da fundação da Confraria da Rainha Santa Isabel é indissociável do culto à Rainha Santa, pois é aí que encontra a razão de ser da sua existência.
Tendo a Rainha Isabel sido beatificada pelo Papa Leão X, em 15 de Abril de 1516, no reinado de D. Manuel, o culto à Rainha Santa assume contornos oficiais: o povo de Coimbra passou a poder manifestar livremente a sua devoção à sua Santa Padroeira.
Em 1554, com a morte do Príncipe D. João, último sobrevivente dos dez filhos de D. João III e de D. Catarina, todas as esperanças do reino se voltam para a gravidez da viúva do malogrado Príncipe. Devota fidelíssima da Beata Rainha D. Isabel, D. Catarina move todo o Reino em preces à mais santa das rainhas de Portugal. A 20 de Janeiro de 1554 organiza-se uma procissão solene ao túmulo da santa esposa do Rei Lavrador, implorando a sua protecção sobre o nascituro e nesse mesmo momento nascia em Lisboa D. Sebastião. A coincidência dos acontecimentos logo foi considerada uma bênção daquela que o povo português desde muito cedo venerou como Rainha Santa.
Em resultado do êxito feliz de tão angustiosa conjuntura, o culto a D. Isabel propagou-se a toda a nação. D. João III resolveu impetrar do Pontífice Romano autorização para que tão veneranda padroeira pudesse ser excepcionalmente celebrada em todo o reino. O Papa Paulo IV deu a sua anuência a esta pretensão em Janeiro de 1556. A pedido de D. João III, todas as dioceses festejavam o dia 4 de Julho celebrando a missa e ofício da beata Isabel de Portugal. Idêntica solicitação foi manifestada pelo rei Piedoso à Universidade, que ele próprio havia transferido definitivamente para Coimbra, em 1537, no sentido de, nesse dia, se fazer uma oração pública em louvor da Rainha Santa no Colégio das Artes, com a presença de toda a comunidade universitária. Nos primeiros anos, as orações ficaram a cargo do jesuíta Pedro João Perpinhão, que inflamava a piedade dos ouvintes com os seus discursos arrebatadores.
Entre muitas outras iniciativas, promovidas no intuito de se fomentar o culto à excelsa protectora do Reino, conta-se a encomenda de uma biografia da Rainha Santa. D. João III viria a falecer pouco depois, mas D. Catarina, que assume a regência durante a menoridade do neto, não é menos diligente na divulgação e promoção do culto. Terá sido certamente por sua influência, na sequência de outros empenhos de seu falecido esposo, que a abadessa de Santa Clara, D. Ana de Meneses, com o apoio de outras religiosas e leigos, fundou a “Confraria de Santa Isabel, Rainha de Portugal”. Em 1560 é publicado o compromisso da nova Confraria, aprovado pelo Bispo-Conde D. João Soares, juntamente com a biografia da Rainha Santa. Desde logo, a Confraria agregou a si vários lentes da Universidade, principiando aí uma íntima e profícua ligação multissecular da Alma Mater com a Confraria.
O objectivo primordial da Confraria da Rainha Santa Isabel consistia em prestar culto à sua padroeira e orar pelos irmãos e benfeitores, vivos e defuntos. Comprometia-se a nova Confraria, entre outros actos de culto, a realizar duas procissões solenes em cada ano.
Ora, sabemos, por Pedro Perpinhão, que houve uma participação maciça dos diversos estratos sociais da cidade de Coimbra na primeira festa que ocorreu precisamente no dia 4 de Julho desse ano de 1560, sendo pregador o eloquente humanista Diogo de Paiva de Andrade.
No dia 3 de Julho, saía uma procissão de uma dos templos da cidade até à igreja de Santa Clara. No dia 4 de Julho, partia a procissão desta mesma igreja terminando junto do túmulo de Santa Isabel.
Dava-se início a uma das mais solenes tradições que ainda hoje reúne a sociedade coimbrã, em toda a sua diversidade social e cultural, num único espírito fraterno que tem como expoente a devoção à excelsa padroeira de Coimbra.