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Contexto Histórico

No consentimento de Pedro III de Aragão para o casamento de sua filha com D. Dinis estava subjacente uma estratégia – o pai queria vera filha sair de sua casa como rainha, como reza o Livro da Vida e Milagres de Dona Isabel. Assim se cumpriu, pois D. Dinis era já rei quando reclamou a mão da infanta, como depois quando a veio a esposar e ocorreram bodas matrimoniais em Trancoso, no ano de 1282. E Isabel, ao ultrapassar este novo limes da sua vida, prestigiou-se. Se saía da afamada casa de Aragão, de uma família em que brilhavam memórias de reis conquistadores e ascendentes femininos aureolados com o carisma da santidade, entrava num reino da Península em que vitoriosos e valentes guerreiros cedo haviam firmado a sua independência e a tinham consolidado com território ganho aos infiéis e com gente que o valorizasse. Isabel viverá em Portugal num período áureo, ao lado de um monarca que soube concretizar, aos mais diversos níveis, a plena definição integradora desse reino e guindá-lo externamente ao lugar cimeiro na constelação das monarquias peninsulares. Projecto político de D. Dinis, o homem-rei, que soube conjugar tradição e inovação, ratificado e enobrecido por D. Isabel, a mulher-rainha, que soube ser santa e suserana.

D. Dinis herda um território já de todo reconquistado e no qual se incorpora em pleno, até com a sua infantil presença, o reino do Algarve pelo Tratado de Badajoz de 1267. Era preciso, ao tempo, e o rei sabia-o, completar a sua total definição e identificação. Jogando com a conflituosa conjuntura dos reinos hispânicos e aproveitando-se do seu papel de aliado forte, reclamado pelos partidos que disputavam o trono com Castela, D. Dinis consegue, ao dar o seu apoio a Fernando IV, reais benefícios. Faz incorporar na coroa portuguesa a região de Riba Côa e estrutura a fronteira entre Portugal e Castela ao longo do Guadiana, ao ser assinado, a 12 de Setembro de 1297, o tratado de Alcañices. E por ele se marcava também o destino de sua filha Constança, que ficava prometida a Fernando IV de Castela, assim se unindo por matrimónio os dois reinos. Com esta mesma intenção de prosseguir uma linha política de demarcação entre Portugal e Castela, quis afastar o seu irmão Afonso, aliado de facções castelhanas, de senhorios fronteiriços nevrálgicos, como Vide, Arronches e Portalegre. Com ele lutou em 1281, 1287 e 1299 até se firmarem trocas de terras e acordos de pazes, para os quais muito terá contribuido D. Isabel.

Desenhado o quadrilátero por terra e mar, necessário era cuidar da harmoniosa conjugação das suas gentes com espaço. D. Dinis tudo fez para arreigar homens à terra e ao tecido produtivo, assegurando-lhes a defesa e a estabilidade e incentivando a economia. Outorgou mais de oito dezenas de cartas de foral que dinamizavam o povoamento de vilas e lugares raianos e com menores atractivos, mormente a região de Trás-os-Montes. Dobrou essas liberdades conselhias com a concessão de mais de quatro dezenas de cartas de feira que revitalizavam e favoreciam o comércio interno. Reforçou a segurança e defesa dos lugares, em especial os de fronteira terrestre, reconstruindo muralhas e castelos e ordenando o levantamento de vilas de padrão geométrico na raia alentejana. Vigiando os perigos de um país de longa costa atlântica, criou uma marinha de guerra, liderada pelo saber e experiência de genoveses, como o almirante Manuel Pessanha, contratado em 1317. Implementou a agricultura, fomentando póvoas e a exploração dos seus reguengos, e cuidando dos lavradores, “esses nervos da terra e do reino”, como os apelidava. Mandou secar pântanos, potenciou as valências das matas, favoreceu a caça e a pesca, atendeu às riquezas marítimas de pescado e sal, e não descurou mesmo a exploração mineira. Dinamizou o comércio interno, mas também o externo, criando em 1293 uma bolsa de mercadores e estabelecendo acordos comerciais com os monarcas de Inglaterra e da França, que favoreciam a exportação dos nossos produtos para países atlânticos.

D. Dinis governou o reino com pleno conhecimento do espaço, nas suas possibilidades ou carências, itinerando com a corte por todo o território. Apoiou-se num aparelho burocrático numeroso e já especializado em oficiais do fisco, como os contadores, e da justiça, como os sobrejuízes, meirinhos, corregedores e juízes por el-rei. Com uma chancelaria organizada, deixou registo dos actos da sua governança e deu forma a um corpus legislativo de mais de uma centena de leis que regulavam a justiça, a propriedade e a moral social.

Na estruturação do ordenamento social D. Dinis teve de agir sobre diversas e contrárias forças sociais. Para conhecer a legitimidade de honras e coutos senhoriais, sobretudo em terras de Entre Douro e Minho e da Beira Baixa, exigiu inquirições – 1284, 1288 e outras na primeira década de Trezentos – que arrolaram abusos e determinavam devassas. Mas os nobres reclamavam das sentenças e a execução do decidido terá sido bem pouco eficaz.

Por sua vez a clerezia e instituições religiosas ameaçavam com o seu vasto património imóvel e isento os demais estratos sociais e as finanças do reino. D. Dinis promulgou leis de desamortização, que impediram a compra de bens de raiz a clérigos e ordens (1286, 1292, 1305) e interditavam aos institutos religiosos a herança dos bens dos seus professos (1291, 1299), legislação ousada que feria os interesses do clero. Com esta força social estivera o monarca em contenda desde os inícios do seu reinado, a qual só se apaziguou com a assinatura das concordatas de 1288 e 1289, que confirmavam os principais privilégios eclesiásticos, se bem que afastassem a recorrente arbitragem da Santa Sé, identificando o clero português, com os demais grupos sociais do reino. Esta mesma intenção integradora da clerezia teve D. Dinis ao obter do Papa a autorização de um Mestre Provincial, oriundo de Portugal, para a Ordem de Santiago, como mais tarde conseguiu a significativa vitória de transferir os bens nacionais dos Templários para a Ordem de Cristo, criada em 1319, que tanto viria a ajudar a financiar a empresa expansionista de Portugal.

Mas a identificação social e cultural do reino passou ainda pela dinamização do ensino, com a fundação de um Estudo Geral (1288-1290) em Lisboa, pela exigência, a partir da década de 90 do século XIII, de que os documentos emanados da chancelaria régia fossem escritos em português, pela regulamentação dos agentes da escrita, como eram os tabeliães e escrivães da corte, sendo o próprio monarca um cultor da poesia trovadoresca.

Este longo reinado de 48 anos agitou-se por vezes com querelas internas. D. Dinis enfrentou, como já dissemos, o seu irmão, como, em 1321-1322 e 1323-1324, o seu próprio filho e herdeiro D. Afonso. D. Isabel guinda-se então ao primeiro plano na sua incansável missão pacificadora. Para congraçar pai e filho entrará mesmo em campo de batalha, rogando pazes. Como, no fim da vida, acabará os seus dias em Estremoz, porque aí se desloca para conversar com seu filho, que se desentendera com Afonso XI de Castela, neto da rainha.

Denodadamente D. Isabel promoveu a concórdia entre forças desavindas. Por meio de emissários ou de uma insistente epistolografia procurou harmonizar o seu irmão Jaime II de Aragão com o seu genro Fernando IV de Castela. A sentença arbitral entre os reis de Aragão e Castela, que D. Dinis pronunciou, próximo de Tarragona, em 1304, teve, pois, a preparação e mesmo a presença da Rainha Santa. Sempre como Filha e Irmã, Esposa ou Mãe lutou pelas boas relações familiares, que inevitavelmente se projectavam no equilíbrio da política interna de Portugal e externamente no concerto dos poderes peninsulares.

Durante toda a sua vida cuidou, como mão e senhora, dos seus filhos próprios e dos bastardos do rei, das donas, donzelas e criadas da sua casa, educando-as e dotando-as para o casamento. Como rainha-santa, imbuída de uma espiritualidade franciscana, profundamente crística e humana, pautada pelos valores do amor, da humildade e da dádiva, alargou a sua magnanimidade de rainha a igrejas e mosteiros e a sua protecção piedosa os desvalidos do reino. Mandou construir e dotar mosteiros, igrejas, mercearias, albergarias, hospitais, gafarias, pontes e fontes. Deu pão aos famintos, vestes aos desnudados e esmola aos pedintes, estendendo o manto da sua misericórdia a pobres, doentes, velhos, prostitutas, cativos, presos e gente envergonhada e decaída do seu estado. Morto o rei em 1325, seguiu D. Isabel como peregrina até Santiago de Compostela, despojando-se dos seus bens e realeza. Quis irmanar-se às clarissas em vida religiosa e passou a viver no seu paço junto do mosteiro de Santa Clara de Coimbra, que ajudara a fundar. Nele ergueu o monumento em que se fez sepultar e nesse espaço de Santa Clara, que se impregnará da sua presença, fez também surgir um hospital que recebia pobres e doentes.

A rainha D. Isabel soube bem ombrear com o rei D. Dinis no governo do reino de Portugal. Politicamente geriu rentavelmente os seus bens e dirigiu com sabedoria a sua casa e clientela. Interveio, com eficácia, na harmonização dos dominantes do reino de Portugal e na concertação, por via diplomática e pessoal, dos interesses dos reinos peninsulares. Era uma mulher culta, que dominava o latim e a ciência da escrita e dos escritos, da mesma forma que dirigia com saber a construção de um mosteiro e do seu próprio túmulo.

Espiritualmente apresentou-se como um modelo de virtudes, devoção e prática cristãs que se espalharam em obra, levantando instituições religiosas e assistenciais, em intensa vida religiosa de oração e sacrifício, e em desvelo e carinho pelos “pobres de Cristo”.

Na vida, como no mito e na lenda, indissociavelmente a D. Dinis, rei lavrador e poeta, se unirá D. Isabel, a rainha protectora e santa.

Maria Helena da Cruz Coelho

Arquivo Histórico

No âmbito do projecto Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos Documentais, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, a Confraria da Rainha Santa Isabel iniciou os trabalhos que têm como objectivo a organização, o acondicionamento, o diagnóstico do estado de conservação, com o consequente restauro preventivo, e a digitalização do acervo livresco e documental, datado dos séculos XVI a XIX e em elevado estado de degradação, propriedade actual da Confraria da Rainha Santa Isabel, de Coimbra.

A Confraria da Rainha Santa Isabel, após a morte da última freira (no seguimento da extinção das Ordens Religiosas portuguesas em 30 de Maio de 1834), assumiu, no ano de 1891, a propriedade imóvel e o legado patrimonial móvel da antiga comunidade clarissa do Convento de Santa Clara-a-Nova.

Com efeito, o património documental foi alvo de múltiplas vicissitudes materiais nos últimos dois séculos em virtude das sucessivas ocupações das dependências conventuais e que acabariam por se reflectir no seu actual mau estado de conservação. A incúria do Homem, testemunhada pelas Invasões Francesas (com a instalação das tropas napoleónicas no convento, entre 1807-10), a extinção das Ordens Religiosas em Portugal (com a lenta asfixia da sua comunidade religiosa, a partir de 1834), a implantação da República Portuguesa (com o estabelecimento de unidades militares do Exército, em 1910), e a força da Natureza, verificada com as inevitáveis pragas biológicas e intempéries naturais, determinaram assim uma gradual destruição deste valioso espólio.

O riquíssimo espólio livresco e documental existente assume uma importância vital para a compreensão histórica da organização religiosa e formação intelectual da comunidade clarissa de Coimbra. A comprovar o interesse científico e cultural mencionado refira-se a sua cedência em diferentes eventos culturais com maior expressão na cidade de Coimbra, como na exposição temporária: A Coroa, o Pão e as Rosas. VIII Centenário do nascimento de Santa Isabel da Hungria (organizada no Convento de Santa Clara-a-Nova pela Confraria da Rainha Santa Isabel de Coimbra, em colaboração com a Universidade de Coimbra e a Comissão Oficial Alemã do Elisabethjahr, em 2007); ou na exposição permanente do Centro Interpretativo do sítio arqueológico do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (IGESPAR), em Coimbra, desde 2008.

Contudo, apesar da proficuidade destas acções, de índole científica e cultural, as mesmas acabam por determinar a deterioração e o desenvolvimento de algumas patologias ofensivas às mesmas.

O acervo documental e livresco, com relevante interesse histórico, cultural e científico para as entidades religiosas e culturais nacionais, determina a sua salvaguarda, preservação e divulgação inadiáveis. A candidatura tem, assim, como propósito organizar, acondicionar, restaurar e digitalizar os 245 exemplares de obras impressas e manuscritas, com encadernações a couro lavrado e ornamentado a ouro, confiados à Confraria da Rainha Santa Isabel de Coimbra. Promover os trabalhos delineados permitirá evitar a perda irrecuperável de um património humano, que, durante séculos, foi utilizado como instrumento primordial de instrução professa e de doutrinação sagrada pela comunidade clarissa, e continuar a disponibilizá-lo às muitas instituições culturais e comunidades religiosas e científicas nacionais, tendo em conta que o seu manejo manual facilita novos danos materiais e acelera o seu estado de conservação. Salvaguardar e disponibilizar o património do passado é garantir a transmissão do Conhecimento às gerações vindouras.

Uma pequena mostra do acervo poderá ser admirada numa exposição organizada pela Confraria da Rainha Santa Isabel e pelo Arquivo da Universidade de Coimbra, na Sala D. João III deste mesmo Arquivo, com inauguração prevista para o dia 15 de Julho de 2010, às 16.30 horas, e ficará patente ao público até 29 de Outubro de 2010.

Donativos

A Confraria da Rainha Santa Isabel tem a seu cargo a Igreja da Rainha Santa Isabel do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Uma das suas principais preocupações consiste em zelar pela Igreja da Rainha Santa Isabel e espaços adjacentes que lhe pertencem e promover o culto à Rainha Santa Isabel.

A manutenção dos espaços e o culto à Rainha Santa dependem exclusivamente dos donativos dos fiéis, devotos de Santa Isabel. Todavia, ultimamente os encargos e despesas são cada vez maiores, enquanto as receitas e donativos têm diminuído drasticamente. A fim de podermos acudir às necessidades mais prementes de manutenção dos edifícios e de promoção do culto à nossa excelsa padroeira, apelamos a todos os devotos que, na medida das suas posses, nos ajudem a suportar as despesas.

A Confraria da Rainha Santa Isabel aceita donativos de particulares e de empresas – ao abrigo da lei do mecenato. A todos os benfeitores passaremos o comprovativo necessário para o IRS. Os donativos podem ser depositados nas caixas de esmola da Igreja da Rainha Santa Isabel, em envelope fechado, com indicação do nome, morada e número de contribuinte. Em alternativa, poderão fazer transferência directa para a conta em nome da Confraria da Rainha Santa Isabel no Montepio Geral:

NIB: 0036.0033.99100687871.81

IBAN: PT50 0036 0033 9910 0687 8718 1

BIC/SWIFT: MPIOPTPL

Enviem-nos cópia do talão de transferência, com a sua identificação, morada, número de contribuinte e nós lhe remeteremos imediatamente o comprovativo para o IRS.

Bem hajam pela vossa ajuda e que a Rainha Santa vos proteja.

Fornecedores Oficiais

Os fornecedores da Confraria da Rainha Santa que quiserem ter o estatuto de “Fornecedores Oficiais” deverão contactar a Mesa da Confraria, para conhecerem as condições em que o podem fazer.
A contrapartida da Confraria consiste na entrega de dois autocolantes, que os fornecedores poderão colar nos seus estabelecimentos, e um diploma a atestar o referido estatuto.

Obra Social e Assistencial

Inspirada na vida e obra da sua padroeira, a Confraria não podia ficar indiferente às necessidades dos mais pobres. Logo no primeiro compromisso de 1560 se estabelecia que o remanescente das esmolas destinadas ao culto fosse aplicado na assistência aos irmãos mais carenciados, a quem deviam assistir na doença e na morte. O compromisso vigente, aprovado ainda sob a presidência do Doutor Vasconcelos, inscreve, entre os objectivos da Confraria, o exercício “da caridade, a exemplo da sua santa Padroeira, subsidiando as Instituições de beneficência e Obras de socorros a pobres, doentes e necessitados, existentes em Coimbra e subúrbio, quer tenham o carácter de assistência, quer de educação e ensino”. E a este objectivo a Confraria consagrava não menos de metade de todas as receitas.

São muitas as instituições que foram e têm sido apoiadas pela Confraria da Rainha Santa Isabel beneficiando dos seus donativos, começando actualmente pela paróquia de Santa Clara, a cuja acção sócio-caritativa a Confraria cede todos os ofertórios dos terceiros Domingos.

Nesse sentido também se têm empenhado as irmãs zeladoras da Confraria da Rainha Santa Isabel para, no dia 3 de Julho, distribuírem alimentos às famílias mais carenciadas. Todos os anos cerca de três a quatro centenas de famílias indicadas pelas Conferências Vicentinas têm beneficiado dessa ajuda.

A jóia da coroa desta acção social é a Casa de Formação Cristã, fundada em 1930 pelo então presidente da Confraria da Rainha Santa Isabel, o Doutor Vasconcelos, com a designação de “Refúgio da Rainha Santa”. Actualmente, esta instituição, criada à sombra da Confraria da Rainha Santa Isabel, elege como objectivo principal a educação de adolescentes do sexo feminino com desvios comportamentais, perturbações emocionais ou com dificuldades de adaptação social devidas a situações de carência.

Real Ordem de Santa Isabel

A Real Ordem de Santa Isabel, também conhecida por Ordem da Rainha Santa Isabel ou Ordem da Rainha Santa, é uma das três Ordens Dinásticas da Casa Real Portuguesa e tem como Santa Padroeira a Rainha Isabel de Aragão.

Instituída em nome da Rainha D. Maria I, a 4 de Novembro de 1801, pelo Príncipe Regente D. João (futuro Rei Dom João VI), a Ordem teve como primeira Grã-Mestra a Princesa D. Carlota Joaquina (futura Rainha Consorte) que atribuiu a condecoração numerosas senhoras Portuguesas, Espanholas e Brasileiras entre 1801 e 1830.

Tratando-se da primeira Ordem Portuguesa exclusivamente feminina, o seu objectivo era distinguir Senhoras Católicas, num número limitado de vinte e seis Damas por serviços à Coroa e a obras de Beneficência ou de Solidariedade Social no espírito da Rainha Santa.

Sendo uma Ordem Dinástica da Casa de Bragança e não uma Ordem de Estado, depois de 1910 continuou a ser conferida pelo último Rei de Portugal Dom Manuel II, no exílio, que a conferiu à sua esposa a Rainha D. Augusta Vitória que, a partir de então, passou a partilhar a Grã-Mestria com sua sogra a Rainha Mãe, D. Amélia. Ambas usavam a insígnia de Grã-Mestra mas raramente conferiam a Ordem.

A Ordem foi conferida pela Rainha Dona Amélia à Princesa Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança sua sobrinha, aquando do seu casamento com o Chefe da Casa Real. A mesma passou a ser partilhada pelas Infantas.

Após algumas décadas de inactividade, a Ordem de Santa Isabel passou a ser novamente conferida, a título honorífico, a partir de meados da década de 1980, pelo actual Chefe da Casa Real Portuguesa Dom Duarte Pio, a algumas senhoras, Portuguesas e estrangeiras, que se distinguiram com serviços em prol das comunidades luso-norte-americanas. Algumas das agraciadas, eram luso-americanas, descendentes das fundadoras da Sociedade Portuguesa da Rainha Santa Isabel uma Confraria fundada em Oakland, na Califórnia por D. Rosa Oliveira que ofereceu, no princípio do Século XX, o magnífico vitral representando a Rainha Santa que pode ser admirado na Igreja da Rainha Santa, onde hoje a Ordem tem a sua Sede Canónica.

Depois do casamento com Sua Alteza Real o Duque de Bragança, a 13 de Maio de 1995, a Duquesa de Bragança Dona Isabel, tornou-se 9º Grã-Mestra da Ordem e desde então muito se tem esforçado por restaurar o carácter religioso devocional e sociocaritativo da mesma.

A Missa celebrada anualmente no dia da Festa de Santa Isabel, na parte da tarde do dia 4 de Julho, é muitas vezes presidida pelo Bispo de Coimbra, em cuja Diocese a Ordem tem a sua sede.

A insígnia da ordem é composta de uma banda cor-de-rosa com lista branca ao centro e um medalhão decorado com uma moldura de rosas em ouro, encimada com a Coroa Real e tendo ao centro em notável trabalho de esmalte, a figura de Santa Isabel de Portugal dando esmola a um pobre (em memória perpétua do celebre Milagre da Rainha Santa), sobrepujando a legenda latina Pauperum Solatio.

Mosteiro Novo de Santa Clara

Restabelecida a independência em Portugal, Dom João IV, em 12 de Dezembro de 1640, iria patrocinar a construção de um novo mosteiro para acolher as religiosas Clarissas, fiéis depositárias dos despojos sagrados da Rainha Santa Isabel. Com este compromisso político-devocional procurava enaltecer a casa da sua veneranda antepassada, responsável pela reedificação do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em 1314, e afirmar o prestígio e o poder da nova dinastia dos Bragança.

Encarregou por isso o Reitor da Universidade, Dom Manuel de Saldanha, de lançar a primeira pedra do novo Convento de Santa Clara no Monte de Nossa Senhora da Esperança, acontecimento que viria a ocorrer em 3 de Julho de 1649. Com o agravamento das condições de habitabilidade no mosteiro primitivo, a 29 de Outubro de 1677, a nova construção, inacabada, recebia as religiosas e as relíquias de Santa Isabel, transportadas em solene procissão por alguns prelados portugueses.

O ano de 1696 assinala duas importantes datas: a 26 de Junho, realizou-se a sagração da igreja, dedicada a Santa Isabel de Portugal, e, a 3 de Julho, procedeu-se à trasladação do cadáver, incorrupto, da Rainha Santa, para a tribuna do altar-mor. Contudo, as obras só seriam finalizadas nos finais do século XVIII, com a conclusão do claustro, da portaria e do aqueduto.

Continuando as obras ao longo de Setecentos, o século XIX revelar-se-ia como um período negro para as Clarissas, primeiro com a ameaça das tropas napoleónicas, instaladas no mosteiro, depois com o nefasto decreto de Maio de 1834, que suprimia em Portugal as Ordens Religiosas.

Com a morte da última freira, em 1886, o complexo monástico foi entregue à Confraria da Rainha Santa Isabel, responsável pela continuidade do culto da sua padroeira, e à Congregação de São José de Cluny, para a instituição de um colégio missionário.

No ano em que a igreja, o claustro e o túmulo de prata da Rainha Santa eram classificados como Monumento Nacional, em 1910, foi proclamada a República, que instalaria nas restantes dependências alguns serviços afectos ao Ministério da Guerra.

Considerada como uma das casas religiosas mais prestigiada do país, a comunidade de Clarissas, de Coimbra, foi reunindo ao longo dos séculos um importante espólio artístico que testemunha a profunda devoção dos nobres e dos pobres pela Rainha Santa Isabel.

Contrastando com a austeridade e sobriedade das áreas monásticas reservadas às freiras, traçadas por Frei João Turriano, irrompe a exuberância decorativa expressa na igreja, ponto de ligação entre a hospedaria, a Sul, e a portaria e os dormitórios, a Norte.

A fachada principal da igreja distingue, através da utilização de pilastras adossadas, as áreas cultuais públicas das privadas, cujo acesso é feito a partir de um portal enobrecido pelo brasão de armas de Portugal, sustentado por dois anjos custódios.

A igreja, traçada inicialmente por Frei João Turriano e depois por Mateus do Couto, apresenta um plano longitudinal, de nave única, e dotada de uma capela-mor elevada em relação ao piso, ambas cobertas por abóbada de caixotões.

Revelando a continuidade dos modelos nacionais o interior da igreja foi ornamentada por múltiplas estruturas de talha dourada e policromada, onde se destacam os catorze retábulos, esboçados por Mateus de Couto nos finais do século XVII. Todavia, a obra de maior valor artístico existente é o túmulo-relicário, onde, em 1677, foram colocadas as relíquias da Rainha Santa Isabel. Patrocinado pelo Bispo de Coimbra, Dom Afonso Castelo Branco, o sarcófago foi executado

pelos ourives lisboetas Domingos e Miguel Vieira, de acordo os modelos da arquitectura maneirista.

No campo da pintura, destaca-se o interessante conjunto da capela-mor, composto por várias telas, setecentistas, atribuídas ao

pintor italiano Vincenzo Bacherelli, onde ganham maior significado alguns episódios da vida da Rainha Santa, de São Francisco e de Santa Clara, aos quais subjazem as representações dos quatro Evangelistas.

Dependência anteriormente reservada à comunidade enclausurada, o coro baixo guarda hoje, além de algumas relíquias, o primitivo túmulo da Rainha Santa realizado por Mestre Pêro, entre 1327 e 1330. Executado num volumoso bloco de calcário, o sarcófago apresenta um riquíssimo programa iconográfico, destacando-se a estátua jacente da Santa Rainha, de hábito de religiosa, ostentando atributos que realçam a sua dimensão de peregrina e a ligação às Casas Reais de Portugal e de Aragão.

No coro alto encontra-se um raro cadeiral, muitas alfaias litúrgicas e cultuais, entre as quais o bordão, incrustado num receptáculo de prata, oferecido pelo Arcebispo de Santiago de Compostela à Santa Isabel aquando da sua última peregrinação.

A poente da igreja ergue-se um dos maiores claustros do país, de plano quadrangular com duplo piso, que melhor reflecte a longa campanha de obras efectuada no monumento. Com ligação às principais dependências conventuais, o claustro revela uma organização espacial que reflecte as disposições da arquitectura maneirista, enquanto as formas compositivas deixam perceber a influência dos modelos barrocos, segundo a linguagem dos vários arquitectos envolvidos: Manuel do Couto, Custódio Vieira e Carlos Mardel.

 

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